Feedbacks no RPG: dicas de mestre

Você vai jogar RPG e está super animado. Ansioso, com a ficha de seu personagem em mãos, brincando com os dados e sorri para seus amigos esperando a sessão começar. Ou talvez você seja o mestre, que passou a semana preparando a história, os ganchos para personagens e NPCs. Mas tem algo te incomodando, você não sabe bem articular o que é. Você quer falar, mas não sabe como. 

Todos nós já passamos por esta situação. Seja como jogador ou como mestre. Uma das coisas mais importantes de quando se joga é mostrar abertura para dialogar. Mas e quando você quer falar algo para seu amigo sem ser babaca, sem atrapalhar a relação das pessoas da mesa? Eu e a Hita conversamos e chegamos em nove pontos, que achamos importante na hora de se comunicar e para ajudar a você poder dar o feedback:

  • Jogadores e mestres têm que se dispor a se comunicar. 

Começamos com o ponto principal. Se o jogador ou o mestre não quiser falar, não tem o que fazer. Mas sempre que tiver dúvida ou algo que te incomoda, veja de conversar. Às vezes cabe ao mestre começar alguma conversa de feedback, justamente para que os jogadores fiquem confortáveis. E é importante reiterar que isso pode ser feito na mesa aberta, com todos, ou pode ser feito individualmente, no particular;

  • Comunicação com o mestre e jogadores (mestre -> jogador e jogador -> mestre)

Às vezes, como mestre, existe uma sombra de uma hierarquia, e isso pode dar uma assustada na hora de ser franco nas comunicações. A parte importante aqui é esclarecer o que os jogadores e o mestre esperam um do outro para que a mesa seja divertida.

Pontualmente falando, o mestre tem que apontar para os jogadores como eles podem interagir melhor com o cenário que ele criou, e ajudar os jogadores a ter uma harmonia entre si. As vezes tem um jogador que quer os holofotes e os outros se sentem deixados para trás, é o mestre que precisa balancear essa dinâmica, e são os jogadores que precisam comunicar ao mestre o que os incomodam. E, do outro lado, se os encontros estão muito difíceis ou chatos, são os jogadores que precisam conversar com o mestre e ajudar ele a achar uma solução;

  • Foco no bem estar e na diversão da mesa (isso não é responsabilidade exclusiva do mestre).

Pode parecer besteira, mas não é. O mestre é responsável por muita coisa e por mais que ele se esforça em trazer o bem estar e a diversão, jogadores apáticos, que ficam no celular ou em conversas paralelas não ajudam. Engajem na mesa, prestem atenção e ajudem o mestre a desenrolar a história. Além disso, existem mestres que se incomodam com coisas diferentes, então não assumam que todo mestre se incomoda com as mesmas coisas;

  • Comunicação é pública ou privada. Cuidado com a linguagem!

Quando for conversar, saiba quando e onde falar. Às vezes a pessoa é mais tímida ou agressiva e você precisa falar a sós com ela ou até em público para reforçar o ponto. Acho que elogiar em público e puxão de orelhas no privado costuma dar certo. E não seja o babaca de falar besteiras ou agir por impulso para acabar com a amizade. Pense antes de falar e vá com calma, às vezes escrever pode ser mais fácil do que falar;

  • Saber se expressar com a pessoa (“eu” vs. “você”) ”comunicação não violenta”

É importante saber como falar nestas horas. Evite perder a calma e tente ouvir o outro. O segredo aqui é falar o que você está sentindo ou pensando sem acusar ou culpabilizar o outro.
Se no meio de uma sessão você ficar bravo e gritar com o coleguinha é importante perceber que quem ficou bravo foi você, tente entender o porquê disso e falar o que você está sentindo. Ajuda se vc trocar os “você” por “eu”: menos “você me deixou bravo” e mais “Eu fiquei bravo”;

  • Saber o que você vai ser (conceito personagem/jogo)

Há muitos jogos e estilos de jogos. Antes de começar a jogar/mestrar leia sobre o assunto e saiba o mínimo para saber as regras, especialmente se for uma campanha. Seja coerente, na aventura planejada, faria sentido ser um hoplita em um jogo no japão medieval? Se não, mude o conceito de personagem. Mesma coisa para mestres, saiba o que você vai mestrar e avise seus jogadores da idéia geral. Eu sei que é tentador fazer surpresa, mas ter quatro personagens humanos e um que é uma luva desperta fantasma sendo carregada por mãos mágicas pode não ser divertido para todo mundo.

Aqui também cabe ao mestre nivelar as fichas dos personagens para que ninguém esteja nem muito forte e nem muito fraco. Quando um personagem se destaca como muito forte, todos os outros jogadores ficam bravos e quando um personagem se destaca como muito fraco, a aventura inteira fica chata para ele. É muito mais fácil fazer isso no momento em que as fichas estão sendo feitas do que arrumar depois;

  • Estudar o básico para o personagem, se isso for condizente com a mesa

Às vezes o mestre tem uma campanha planejada num cenário, e se empolga muito, fornecendo vários materiais para os jogadores lerem. É interessante ler, para que o seu personagem se encaixe bem no cenário concebido pelo mestre.
Numa campanha de Roma Antiga, é interessante de pesquisar um pouco sobre a Roma Antiga. Não que isso seja estritamente necessário ou obrigatório. Às vezes o interessante é mesmo quando os jogadores não saberem de nada. E em RPGs o foco é a diversão, então faça o que você achar divertido. Mas se você é o único jogador da mesa que não leu sobre o cenário, isso pode acabar azedando os planos de campanha do mestre;

  • Compromisso com a mesa (casual vs. “profissional”)

Saiba como se comprometer durante a mesa. Se for um jogo só, você pode se comprometer a divertir e talvez nunca mais ver alguém. Mas se for algo que você joga via stream, com seus amigos e já possui um certo grau de profissionalismo. Seja pontual, se dedique a mesa e traga coisas para aumentar a interação.

Num ambiente mais “profissional” de RPG o que é mais interessante de se fazer é acompanhar a aventura que o mestre planejou. Num cenário mais casual é mais “caixa de areia”, em que o mestre e os jogadores vão criando as coisas juntos. E não é à toa a melhor coisa a se fazer é comunicar o que as pessoas esperem que aconteça, para ajustar as expectativas de acordo;

  • Conhecer o que os outros personagens dos outros jogadores estão jogando

Saiba o que seus colegas estão jogando. O RPG é mais legal quando é um jogo coletivo. É sempre mais legal que as conversas “in game” sejam falando os nomes dos personagens, e é sempre legal pro mestre se alguém presta atenção aos mapas e aos NPCs. 

Durante um encontro é legal quando os jogadores jogam em conjunto para abordar o problema e resolver. A mesa pode ter dois ou mais jogadores da mesma classe e é legal que eles se comuniquem para que isso se torne algo positivo. E alguns sistemas permitem isso mais do que outros. Anota no verso da ficha o nome deles e as classes, e vai perguntando sobre as motivações dos outros personagens. Isso sempre deixa a mesa mais engajada na aventura.

 

Essa matéria foi escrita por:
Hita Aisaka e Felipe Holzmann

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